sábado, 25 de fevereiro de 2012

Texto: Tamanho não é documento - português

O primeiro dia de aula pode trazer surpresas aos alunos. Quem serão os novos colegas? E os professores? Veja o texto a seguir.


  No primeiro dia de aula eu sempre gosto de dar uma espiada de leve na sala dos professores para ver se há caras novas. \de modo que fui lá conferir. Vi que conhecia quase todos os professores que estavam na sala, papeando, mexendo em livros, assinando folhas de papel. A única figurinha nova era a moça baixinha de salto alto. Ela estava tomando água do filtro. Bebia aos goles. Devagarzinho, dando a impressão de que estava saboreando a água. A gente aprende que água não tem gosto, mas as pessoas vivem dizendo - puxa, que água gostosa! - ou então - nossa! que água horrível!


  A baixinha era dona Furquim, a gente ficou sabendo disso logo depois. Dona Furquim tinha a placidez de quem saboreia água. Essa foi a impressão que me deu. Não fiquei olhando muito. O que me chamou mais a atenção foi o tamanho dela. Um minguinho de gente. Mas não fiquei encarando muito. Saí andando pelo corredor; ao primeiro companheiro que encontrei fui contando a novidade: professora nova, gente!


   Mais tarde a turma de nossa classe ia ver que tamanho não é documento. Dona Furquim entrou na classe e a turma estava na maior pandega. Ela subiu ao estrado com suas pernas finas. Foi quando alguns da súcia até riram com mais gosto, mas eu já tinha passado um zíper na boca e fiquei sério.
    (...)
        Quando a classe parou de rir, dona Furquim tinha acabado de escrever o nome dela na lousa, com letras médias e claras. Furquim, que nome engraçado. Combinava com as pernas finas dela. E não era só isso. \tinha jeito de apelido, ao mesmo tempo assentava como um acento circunflexo na fama que dona Furquim trazia atrás de si: que ela era a exigência em pessoa. Muito amiga dos alunos, tal e coisa, mas com ela corpo mole não valia, a turma tinha de aprender a comer o mingau pela beirada do prato para não queimar a boca (modo de falar).


    Foi no finzinho da aula, um pouco antes de tocar o sinal, a gente já estava guardando os badulaques, que dona Furquim deu o principal recado e passou a receita de seu modo de ser. Ela falou, com a maior calma:
 - Muito bem. Vocês vão me fazer uma tarefa em casa.
       Tarefa no primeiro dia de aula? Não houve um que não perdesse o rebolado. Nossa classe era mista. A mais sabichona da classe, a que trazia tudo limpinho no caderno na ponta da língua, era, sempre foi, a Maria Clara de Ovo. Pois até a Maria Clara de Ovo foi pega de surpresa. Deixou cair o tampo da carteira no dedo, ficou assoprando. Dona Furquim era toda mansidão:
   - A partir de hoje, em todas as aulas, vocês me tragam um pequeno texto livre. Uma história qualquer que tenha acontecido no dia a dia. Dez linhas. Não é necessário mais que dez linhas. Entenderam?


    A classe inteira ficou encarando dona Furquim como se ela fosse a mulher-maravilha.
 Será que dona Furquim estava caçoando da gente?
  
    - Dez linhas do quê, professora?


Dona Furquim estava acabando de apanhar os livros de cima da mesa. Virou-se e repetiu, como se estivesse dizendo algo que nós devíamos saber de cor:


  - Vamos contar por escrito as coisas que acontecem todos os dias. O cotidiano de cada um. Mesmo que pareça um fato sem importância. Façam de conta que é uma brincadeira. Em casa, vocês arranjam um tempinho, passem para o papel um pouco da vida. Tanta coisa, não é mesmo? Sempre acontece tanta coisa na vida da gente!

   Depois da aula geralmente a turma gostava de atirar bolotas de papel uns nos outros.
Nesse dia ninguém atirou bolota em ninguém. Maria Clara de Ovo continuava coçando o dedo. O Neto cismou de perguntar se era para fazer a redação a tinta ou a lápis.


   Soara o sinal. Dona Furquim ia saindo:


- À vontade. Tanto faz a tinta ou a lápis.


    Assim foi o primeiro dia de aula de dona Furquim.
Ela nunca fez questão das coisas muito na ponta da língua (ou seja, certinhas). Gostava de dizer que é bom aprender para a vida. Como se aprende a andar. Foi por causa de dona Furquim que desse dia em diante passei a rabiscar coisas que aconteciam em minha vida. Enchi um caderno de redação e depois outro caderno de redação. Isto que eu estou contanto aqui não passa de folhas soltas desses cadernos. No passar a limpo, procurei emendar os erros que dona Furquim havia corrigido. Emendei os erros, mas não modifiquei os fatos.


Texto retirado do livro: O empinador de estrela
Autor: Lourenço Diaféria

Uma carta chamada Constituição - História

A Constituição também tem outros nomes: Carta magna, Carta Constitucional, Carta Política. Ela é a lei maior de uma nação. Nela estão escritas as normas que devem ser seguidas por todas as pessoas que vivem em um país. Regula desde a forma de governo até o funcionamento de empresas particulares, diz as responsabilidades e os objetivos de cada um, os direitos e deveres do cidadão; enfim, fica de olho em tudo o que todos fazem.


     A primeira Constituição do Brasil foi a de 25 de março de 1824, e o responsável por ela foi Dom Pedro I, que na época era o imperador. Essa Constituição não foi discutida nem votada, e, de acordo com ela, praticamente todo o poder estava nas mãos do próprio Dom Pedro.


   Com o tempo, muitas coisas que eram impostas por lei nessa Carta deixaram de ser. Por exemplo, uma religião oficial para todos: o catolicismo.


    Depois vieram outras Constituições, cada uma reformulada de acordo com o momento político por que passava o Brasil e com as exigências da população, isto é, quando era possível exigir, pois nosso povo já passou por maus bocados.